domingo, 5 de abril de 2009

O CALCANHAR DO SEMINARISTA

Foi num Domingo de Ramos, quando na catedral provisória se benziam as palmas e lá fora, num sol estontecedor, lindo em suas batinas novas e sapatos de fivela, os seminaristas do Provincial cantavam;"Pueri hebreorum..." que se viram e se amaram. Sabes como? Da maneira mais interessante possível e um tanto ridícula.
Seminarista elegante e chic, moço no salão ede unhas polidas, ao iniciar-se a Semana Santa, botou um par de meias de sêda, tênues e delixadas como uma teia de aranha. Com o roçar do sapatinho lustroso, ameia rompeu-se justamente no calcanhar. Na igreja, naquele apêrto de povo, com aquele calor dos grande ajuntamentos, o elegante levita descalçou o pé de calcanhar a mostra, certo de que nenhum olhar indiscreto atingiria a leberdade do gesto. Ela, contudo, seguindo-o de há muito com o olhar, com o coração, foi se aproximando e quando se viu bem proxima do ultimo banco, onde o formoso clerico se assentava, tocou de leve, com a ponta aguda e macia do sapatinho branco, a pele rosada e latejante do futuro reverendo. A começo se assustou. Depois sentiu curiosidade e certa volúpia. Olhou; era ela. Sorriram-se. Tocou de novo o calcanhar à mostra... O seminarista enrubesceu-se. Um colega bisbilhoteiro deu-lhe uma cotovelada inteligente: Olhe, bôbo. è bonita... O reitor esta vendo ? Que !... não enxerga nada...
E O arcebispo ? Está se preparando e discutindo com o cônego orador... E os espiões do seminário ? Estão a servir o altar... Posso olhar então ? Pode.
E o futuro padre arriscou uma olhadela. A moça que já o esperava, aferrou-lhe um olhar que foi direto ao coração. Ficou pálido; estava vencido. Tôda a Semana Santa foi uma delicia.
Aquela meia rasgada tinha filtros, encantamentos, seduziu-a. E depois querem dizer que o amor reside no coração... Para o seminarista residia no calcanhar. Na procissão de enterro estiveram juntinhos, juntinhos. No sabado de manhã, os colegas riam-se com muita inveja, examinando-lhe as mãos; estavam roxas de beliscões. No domingo de Ressurreição, sob a neblina protetora confabularam longamente. Na segunda-feira de Pascoa, ele elegantissimo futuro reverendo, desaparecia do seminário. O cancanhar lhe fora fatal.

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