No umido frio destas hibernosas tards paulistas tenho suspirado por acalenta-me à tepidez de tua juventude tropica. Não imaginas como é cruel o frio no coração dos velhos, principalmente, a mim, visionario do passado, eterno evocador dos diasde sol qque já se anoiteceram na minha alma... tranzem-me estas tarde de São Paulo a lembrança de tantos corações que se esfriaram, assim, de repente, em plena estação calmosa. Que coisa amarga é o inverno do amor, o enregelar-se de um coração que se cansou de amar! Quantos não tive eu, como chamas, em minhas mãos, e que depois, gelados, me fizeram tremer a distância... Ninguem foi mais iludido do que eu: Olhos nenhum viram mais sinceridade do os meus, ainda quando a hipocrisia chamejava nos olhares cúpidos e traidores das suseranas do meu afeto. Recordo-me do último sarau em que nossa velha e inesquecida casa senhoril... Eu tina dezoito anos, o que importa muito, pois, é a quadra de tôdas as generosidades e de todos os sacrificios pelo menos, no homem; na mulher, não sei... Ela teria menos, uns dezesseis anos se tanto. A noite inteira passamos juntos, a embeber-nos de amor, olhos postos dentro de cada olhar, esquecidos da vida, em pleno sonho, envoltos pela mais fragil e dourada das ilusões. Tu serás só meu. Sim, só teu, únicamente para o teu amor... mas vais deixar-me... Deixar-te ? Vou apenas estudar e dentro de cada letra, na extenção de cada palavra, nos menor dos sons, no mais exígno átomo de beleza, tu vibrarás na minha lembrança, dento de minha saudade. Tu, sim, meu ídolo, é que ne poderás esquecer, aqui, onde a tua formosura desperta admiradores nos próprios espinhos que te querem ferir, por amar-te... Eu esquecer-te? Juro pelas estrelas que nos ouvem, pelo Deus que trago neste colar. Como sabes mentir os lábios da mulher enganosa! Desculpe-me Eugênia, mas, é a verdade. Penso que dentre todas do mundo, uma só não mintiu, não enganou; minha mãe.
Anos depois nas férias de julho, numa noite fria, tal como as noites de São Paulo, encontramo-nos de novo, num lindo sarau de arte, em casa amiga. Procurei-a. Recebendo-me, assim, como nos recebem as noites de inverno, em plena rua deserta; friamente. Apresentou-me o seu noivo e falou, pedantemente, perguntando-me dos meus estudos. Disse-lhe que ia muito bem, com especialidade em astronômia, pois que as estrelas me eram de grande consolo, verdadeiras confidentes. Desconfiou logo do meu alvo e com o maior cinismo discorreu acêrca do perigo de fitar estrelas. Depois, como o noivo lhe perguntasse se me conhecia de há muito tempo, explicou-
lhe que não, apenas de déspera, apresentado por uma amiguinha comum. A orquestra iniciou uma valsa qualquer e amobos, para alivio meu, saíram dançando com infinita placidez.
Nunca senti tanto frio como naquela noite e parece-me que até hoje o sinto, êsse frio apertar-me o coração. Já reparaste em certos tipos que vibem de contínuo encapotados, tremendo sempre, sem jamais encontrarem calor que os aqueça? Tenho nêles outros companeiros meus, amantes sinceros que viram, numa noite de inverno, enregelar-se algum falso amor, algum falso coração, Fica-lhes depois êsse frio tão entranhado na alma, que a menor oscilação de temperatura lhes basta para sentir contrafeita a existência, obscurecido o mundo, detestável o viver. Nenhum outro carinho consegue reconfortar o coração que descreu, nem mesmo êste amor divino que Cristo veio trazer a Terra. Quase meio século já se foi que frade me fiz e por Deus me suicidei; entretanto, nas tardes melancolicas dêste clima paulista, quando uma garoa tinge de cinza a celagem fatal do céu que nos espia carrancudo e mau, sinto como se uma ponta de gêlo, no íntimo do coração, renascer-me a recordação cruel dessa noite em que ela me desconheceu e por ortro mais rico talvéz, me substituiu, na venalidade de sua alma sem dó nem amor. Hoje estou assim, trêmulo de frio, tiritando e sem gôsto, sem coragem ate para suster a pena amargurada com que te escrevo. É a ponta de gêlo que já se aguçou, qua já me fêz sentir, mais doloroda agora, pois mais velho e sentimental, mais sensível e afetuoso, todo me contristo e em mágoas me desfaço ao simples aceno do inverno. Pesponde-me logo para que eu me acalente, me escalde no braseiro das tuas ilusões de oça, que ainda acredita na sinceridade do verbo amar.
quinta-feira, 9 de abril de 2009
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