DIAS DE GLORIA E DE TORTURA- Iniciamos agora as cartas destinadas a Querida Eugenia, e creio que neste momento ao transcrever as correspondencias de Frei Franscisco da Simplicidade estaremos deixando para a posteridade, os escritos no século XVIII.
De todas as partes perguntam: - Quem sou eu; quem és tu. Querem saber quem seja o Frade amargurado que te escreve, com tanta lágrima nos olhos e tanto amor infeliz no coração.
Anseia por descobrir quem sejas tú, tão querida, ao ponto de mereceres tão frequentemente a confidência dolorosa de um sonhador que descreu de amar. Desejo inutil. vão esforço, porque nós somos todos aqueles que já tiveram uma ilusão e a viram desfeita.
Vivemos, tu, dentro de cada alma de mulher que foi infeliz e nesta vida passou pela desgraça de se deixar iludir; eu, no intimo de cada homem, no latejamento febriu de todos os corações masculinos que provaram o amor; que por um minuto sentiram as delicias do Edem e depois expulso da mansão dos sonhos, vaguearam sob o clarão da espada ígnea do Arcanjo, sem rumo, sem destino, arrastados pela dor de ter amado, pela saudade da beleza que entreviram, ralados pela ânsia, pelo tormento de nunca mais poder amar, porque o amor é como a vida; um só se há de ter, um só se há de experimentar para eternamente ser feliz ou infeliz.
Outros virão fugazes, superficiais, amargosos, servido apenas para aumentar a angústia da lembrança daque que se perdeu.
Quem somos nós? somos o duplo coração da humanidade, perenemente em dor, od pólos da vida; o in ferno e o céu das religiões espirituais; a lágrima e o anseio dos que amaram; o tormento dos que se quiseram; a angustia dos amorosos que jamais conseguiram unir-se.
Somos a sombra de todos os amantes; a tristeza de todos os que tentaram alçar-se até Deus e se aprofundaram até Satã: Vibra no silêncio a desdita das mulheres que a ilusão emudeceu: És a projeção dolorosa de tôdas essas almas que se suicidaram por um beijo e numa irresolução perderam a melhor batalha da vida; os trufos do amor.
Eu sou alguma coisa a mais do que tú; tu és mulher apenas; eu sou frade tambem.
Ah ! se os leitores pudessem reclinar a cabeça cheia de sonhos sôbre o amargurado coração que esta cartas compõe ! Ah se pudessem...
Os anos que me sugaram as faces e hoje, trêmula, esta pena dolorosa nas mãos colocaram, não conseguiram abafar o bramido de revolta que nêle o amor despertou, as labaredas que o incendio da paixão lhe ateou em outras épocas.
Nem sei como arde e em flamas se não faz o burel que me amortalha: Ruge atormentado em mim o coração humano que amou e que, por imposição dos homens, em nome de ula Lei injustificavel perante Deus e as escrituras, nunca mais poderá amar.
Todos esses milhões de monges, êsses incontaveis amorosos que o celibato sacrificou, todos rugem e soluçam nos desesperos e nos desalentos da minha angustia universal.
Eugenia, somos os simbolos dos sexos que Deus plasmou para juntos, unificados, recosntruirem a felicidade por êle criada, mas, desfeita por satã.
Todos os que, um dia, na mal despontada adolescência, sentiram na chispa de um olhar, no contato de uma mão, no tremor de uns lábios feitos para o beijo, o deslumbramento inexplicável do amor e depois, arredados pelo fantasma do destino, se imergiram na desgraça de nunca mais sentir êsse encanto divino da paixão, todos vivem dentro do símbolo que somos, soluçando a nossa mágua, a desventura deles.
Quem somos nós? Tu és a resignação que sofre e não protesta; eu sou a dor que empunha a pena e escreve ! És a angútia que se martiriza, mas emudece; sou a desdita que pena, mas, não se cala: És a mulher que o amor santificou, na vida; sou o homem que por um sonho se iludiu.
Somos dois corações, que na terra não puderam unir-se, que no céu, porem, se encontraram num refluxo de sol, num raio de luz, para eternamente abençoar os infelizes no amor.
terça-feira, 7 de abril de 2009
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