CONHECI-O nos meus primeiros anos de vida religiosa. Viajáramos juntos, no mesmo carro e no caustro, tivemos as mesma aspirações, os mesmos sonhos. Ambos nascidos para a eloquencia, nutrimos a ilusão de arrebatar os povos com a nossa palavra. Confesso que ele era mais vivaz e eu mais profundo; que ele arrebatava e eu apenas convencia. Porque arrebatava, desapareceu no arrebatamento do seu carater e aqui fiquei por me haver convencido de que deveria ficar. Grande alma, coração não menor, chamava-se Atanásio. Feio nome, não é? É nunca o ouviste; no calor da sua palavra, toda a rudeza física se sobredoirava de uma facinação irresistivel e as almas femininas adoravam-no gulosamente. Numa festa religiosas a que fôra pregar, seduziu-o o fulgor de uma cabeça loura e refressou ao mosteiro inteiramente trnstornado. Surpreendi-o a chorar, numa tarde, quando as sombras enchiam os longos corredores do convento. Tomei-lhe sôbre o meu peito acabeça congestionada de ilusões e falei-lhe de Deus e da mulher, da terra que passa e o céu que permanece. Não me entendia; a visçao daquela cabeça loura lhe transtornara o espirito e a lembrança dos proprios votos já lhe não pesava mais na conciência.
Veio a Semana Santa e o grande sermão do Mandato lhe foi confiado. Deveria falar da festa do amor, da epopéia do coração. E quem melhor do que falaria do amor, se dele trazia o coração a fremir? Falou fantasticamente bem mais humanamente. Num momento patético, quando decrevia a tortura de quem nasceu para o amor sem, entretanto, poder amar entre as muitas pessoas que se comoviam, notei, a pouca distância, uma cabeça loura que tremia convulsa...
Na manhã de pascoa, na neblina leve que poétizava a procissão da madrugada ao lado do meu companheiro de cilício e burel, acompanhou-o sempre um vulto, uma silhueta, uma sombra, que era quase de anjo se não fosse de Satanás. No dia seguinte, no meu genuflexório, tarjada de negro, achei uma carta. Encerrava as suas despedidas. O clautro já não o encantava mais, errara o seu caminho, fora louco em pensar que poderia, no ardor dos 20 anos, calar a voz do coração despertado pelo amor. Fugia, pois, para o mundo que tanto combatera e por que fôra vencido. Que eu rezasse por ele, que lhe perdoasse a loucura daquele ato e se um dia, pobre ou desgraçado o encontrasse, fosse para com ele o bom samaritano do Evangelho. Fugiu o meu companheiro, deixou a paz dêste mosteiro silencioso para cair no verdadeiro inferno de que falam as Escrituras. Quando Frei Atan´sio se apresentou em casa de Eunice, a loura, e com um mundo de ilusões na alma, aquela cabecinha loura que o conturbara, que o arrebatara do convento, recebe-o friamente e à queima-roupa lhe disse: "Voce era lindo de batina, mas assim... que deselegancia de porte, que mal gosto no vestir-se ! Parece-me que já não tenho diante de mim aquele formoso pregador da Semana Santa; perdeu-se o encanto daque habito que me seduzia... Você é como êsses milheres que rodeiam a minha janela. Não seria melhor que voltasse para o seu mosteiro?"
Louco, sem uma palavra sequer, voltou-se para a rua e desapareceu. Numa cidade proxima havia um colegioonde precisava de um professor. O grade prepara do trânsfuga infeliz foi aceito e, por um esforço de vontade sôbre-humano, esqueceu-se Eunice. Numa das festas do Colégio, o Dr. Atanásio conheceu uma moça. Atraiu-lhe a atenção a grande tristeza que derramada havia naque rosto de mulher. Depois de algumas visitas conheceram-se mais intimamente.
Os romances eram identicos; tambem ela fora vitima de uma ilusão amorosa; rica, mandara a estudar um seu primo, com a condição explicita de casar-se com ele após a formatura. Terminados os estudos, nomeado promotor numa cidade do país, la se ouvidou da prima benfeitora pelos olhos claros da filha do juiz da comarca. Desta forma, naquela cidade onde o meu companheiro era professor , se encontrava dois despeitados e, ela para fazer pirraça a Eunice que o despresara; e ela, para fazer acinte ao primo que a esquecera, se casaram. Não havia um amor muito vivo nessas núpcias; havia um desejo multuo de se vingarem ambos dos corações ingratos que os tinham olvidado. Desde êsse tempo é que detesto as cabeças louras e os olhos claros. Há nessese esplendores de sol o reflexo fulvo das chamas do inferno
quarta-feira, 8 de abril de 2009
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